Há muito não sou ligado na cena rock nacional, há muito tempo mesmo, e podem me julgar e o escambau, fato é que normalmente não acompanho o que rola na mídia mainstream brasileira quanto à música (já que em geral não é rock), e quando tem algo que talvez possa me agradar no que se refere ao ritmo, já está tão “hypado” que eu perco o interesse pela saturação absorvida por osmose: aquela música que a gente não procurou, mas ouve por aí em rádio de porta de loja, carro passando na rua, boteco, vizinhança, sugestão de streaming ou spam de mídia social.
Ou seja, o que tá em voga e nunca ouço mesmo, sempre é tralha enlatada (ou estilos que não me agradam), e na cena de rock, durante o hype eu só ouço indiretamente, e com atenção somente depois de uns 5, 10 ou 20 anos depois que saiu, por cursiosidade repentina ou algum gatilho de recordação…
De rock nacional mesmo, apenas passei pela fase clichè que a maioria dos jovens brasileiros nascidos entre a decada de 80 e 90 passou, ouvindo coisas como Legião Urbana, outras bandas oitentistas e afins. Nada de diferentão. Aliás conheci Legião Urbana já bem tarde, por volta de 1995/96, por uma fitinha K7 de O Descobrimento do Brasil. Tinha 11 anos de idade e o que ouvia de rock nacional antes disso tinha sido Raul Seixas, Ritchie e Ultraje a Rigor e coisas que eu não sabia o nome na época. E de rock internacional furei o album These Days do Bon Jovi (pois foi o primeiro CD que tive em 1996) e So Far So Good do Bryan Adams, além de uns LPs de hits pop e new wave quando ainda mais novo.
Daí, dessa época até por volta de 1999 passei a conhecer as bandas de rock brasileiras típicas que a falta de acesso a internet na época permitiam: ou seja, aquelas do eixo Rio/SP e centro sul, algumas que há muito já tinham passado de seu ápice mas das quais os sucessos continuam vivos até hoje, e outras que estavam se consolidando ou em seu auge: Engenheiros do Hawaii, Kid Abelha, Plebe Rude, Skank, Planet Hemp, Pato Fu, Raimundos, Ratos de Porão (claro que esta última nunca estará no mesmo universo das demais).
Além disso, não tinha MTV em casa, então eu lia sobre outras bandas na revista Showbizz (antiga Bizz, que no fim da vida voltou a ter este nome), e na RoadieCrew (quando conheci uns amigos metalheads) e emprestava CDs de amigos que eram de outros estados, mas que moravam em Porto Trombetas (PA). Basicamente eu ia lendo as resenhas de CDs que saiam (nacionais ou não) e anotava na memória pro dia em que eu pudesse ter acesso à web em casa (a partir de 2001, quando passei a usar o já agonizante Napster, depois WinMX e KaZaA).
Por um breve período também havia um serviço de compra de CDs da Editora Abril chamado Musiclub, que não deu certo depois que eles quiseram forçar uma “assinatura” empurrando albuns que não interessavam, mas conheci algumas coisas ali por curiosidade.
No entanto, mesmo com tudo isso, aquelas ondas do hardcore melódico (antes dos emos), rock gaúcho e outras cenas paralelas que apareciam até em programa dominical, eu só passei a “acompanhar pra valer” por volta de 2003, quando me mudei para Santarém, pois lá o sinal da MTV era aberto. Não que eu dependensse da MTV pra isso, mas os downloads que eu fazia em geral não eram de bandas brasileiras, então meu conhecimento sobre estas se concentrava no que via na TV (nunca tive hábito de ouvir rádio).
Nesse período, aliás já desde 1998 pelo menos, eu estava na transição pros resquícios do alternativo gringo noventista, ouvindo Nirvana, Alice in Chains, Pearl Jam, Candlebox, Veruca Salt, Bush, Silverchair, etc. E fui cada vez mais achando aí meu foco de interesse por muito tempo: em geral coisas do movimento grunge e derivativos, stoner rock (Kyuss, Fu Manchu), algo de punk (Bad Religion, NOFX), além de dream-pop (Mazzy Star, The Sundays, Belly).
Também lá por 2000 comecei a ouvir metal, mas ignorando parcialmente a onda “nu-metal”, que só passei a pesquisar de uns 10 anos pra cá. Curtia mais thrash, industrial e um pouco de gótico/doom (que hoje é o que mais ouço), mas aí é coisa pra outro momento, pois mergulhei mais ainda nisso já no fim daquela década, e é verdade que uma vez que você vai conhecendo as vertentes do metal, nada mais é rock pesado o suficiente.
Enfim, a questão é que chegou um momento la no início do século, que eu basicamente perdi a curiosidade em bandas brasileiras. Coisas como Autoramas, CPM22, até acompanhei um pouquinho em suas épocas de maior rotatividade, mas outras bandas cultuadas dos anos 90s como Little Quail and The Mad Birds, Graforréia Xilarmônica, a maravilhosa banda mineira Virna Lisi (a qual conheci já na notícia sobre o fim em 1997 no Alto Falante da Rede Minas – rende outro post), e até bandas mais famosas e pioneiras como Nenhum de Nós, Cidadão Quem e Heróis da Resistência só fui ouvir algo mesmo depois de 2010. Ira! e Capital Inicial por exemplo, até hoje ouvi pouquíssimo, e Paralamas do Sucesso, Titãs e O Rappa eu curtia pouco ou quase nada.
Mas não as desmereci jamais, eu apenas estava em outro momento, que acabou durando muito tempo ignorando as boas bandas brasileiras nas minhas buscas, porque vivendo quase isolado no meio do mato não havia resquício nenhum das bandas alternativas nacionais para transpor a mídia nem mesmo na programação da madrugada da MTV. O streaming de música era incipiente, a capacidade de viralização era escassa e o YouTube só surgiu em 2005, mesmo ano em que passei a descobrir coisas pelo Last.FM, então concentrei minha curiosidade nas coisas que estouraram lá fora nas cenas de britpop, grunge, shoegaze, etc ainda da década anterior. Como sempre, passando a escutar tudo com atraso, mas agora por vontade simultânea ao desinteresse pelo hype.
Toda essa história irrelevante pra compartilhar uns links interessantes. Ontem quase por acaso lembrei de uma banda carioca independente chamada Pólux (e/ou Polen?), que terminou ainda em 2001. Lembrei deles por uma reação em cadeia, após ter visto Pedro Bial entrevistar uma banda curitibana que está no “super hype mainstream” atualmente (com uma música chata pra caralho), e em certa parte da entrevista outros participantes falavam da cena curitibana e citaram o Relespública, que é das bandas que eu ouvi falar lá no início dos anos 2000, mas que ficou na minha lista do “um dia vou procurar sobre”. E nada.
Cá estamos 22 anos depois, e nessa pesquisa que fiz sobre eles no Soulseek, me veio em mente o Polux, que vi em uma apresentação em algum programa noturno da TVE carioca, que era um dos 5 canais abertos que tinham sinal em Porto Trombetas sem antena parabólica no início dos anos 2000. Já anos depois eu vim saber que essa banda acabara em 2001, e dela originou-se o Leela, banda de Bianca Jhordão que foi umas dessas que tiveram sucessos la em 2004, mas que eu não dei muita atenção. Contudo “a cada 5 anos” eu lembrava do Polux, queria saber por onde andava a baixista da época e saber se havia algum album antigo (já que eram underground quando acabaram).
Ou seja, a partir de de uma entrevista sobre uma banda com um hit horrível de hoje em dia, tive o gatilho pra pesquisa sobre Relespublica > Polux > Leela e achei varias coisas interessantes:

Polux láááá em 1998?
Havia duas ex-baixistas contemporâneas à época das minhas memórias sobre a apresentação na TVE, mas eu não lembrava o nome. Se trata da Eva Leisz (ou Mariana Eva) que em 2001 tinha uma banda/projeto chamado “mim” (há pouca informação hoje, apenas uns mirrors antigões do site). Conheci o excelente trabalho da Katia Dotto, que também teve passagem como baixista pelo Polux, Leela, e pelo projeto da Leisz. Ouvi e gostei bastante do álbum homônimo do Leela lançado em 2004. Alguns links com perfis e entrevistas relacionadas:
- Entrevista do Leela no Altetnative Noise (Jan/2002)
- Entrevista com Bianca Jhordão no Sana Inside (Mai/2002)
- Entrevistas sobre o primeiro disco solo de Katia Dotto (Folhateen Dez/2002; Scream & Yell Jun/2003)
- Entrevista com Eva Leisz (mim) ao Scream & Yell (Set/2003)
- Entrevista com Leela no Nação da Música (2008)
- Katia Dotto, vídeos da época da produção do clipe de “Cinco Cores” e outras canções em voz e violão no perído do álbum Amabile (Jul/2011)
Por fim, ainda na busca pelo Polux, achei o blog “Demo-tapes Brasil“. Um verdadeiro acervo com fitas demo de muitas bandas brasileiras, incluindo várias que guardei os nomes na memória para um dia pesquisar, mas deixei de lado. Coisas como Baba Cósmica, Wry, Walverdes (infelizmente não achei Maybees, Boato, e o The Jerks é outra banda)… Mui grato pela dedicação do Edson Luis de Souza em compilar e manter um histórico importante como esse. Destaque pra demo do Polux, Ex Limo Terrae, de 1998, e o clipe da música que lembro que tocaram na TVE.

Para links quebrados pro album que você quer, basta ir no banner do Mega no canto superior direito dá página.
Continuo escutando as coisas com anos de atraso, muitas vezes bem após as bandas encerrarem atividades, mas esses achados me fazem “mudar o disco” e variar para redescobrir alguns sons que esqueci e ouvir o que tenho perdido nas playlists. Mas admito que não tenho lá curiosidade por muitos artistas em voga hoje. Concluo que meu exercício tende mais a reduzir esse intervalo de atraso entre o momento hype e a fase em que finalmente posso curtir fora do espectro de saturação.
Eu comecei a escrever esse post há uns 2 meses, e deixei em rascunho. Perdi uns links e na “re-pesquisa”, acabei encontrando mais uma jóia com a Katia Dotto, chamada Kanella Pie, que eu não havia prestado atenção em uma das entrevistas linkadas. Na pesquisa sobre, achei um vídeo antigo, publicado pelo baixista Bruno Linhares no YouTube, e coincidentemente, um conhecido da época da escola, que também sempre foi muito ligado em música, havia comentado no vídeo ha 14 anos atrás (época da publicação).

Passados esses dois meses, Daí, considerações finais outras coisas que alimentaram minha curiosidade…
- Curti bastante o que ouvi do Leela, especialmente o album homônimo e o Pequenas Caixas, de 2007. Além do hit grudento “Te procuro”, algumas faixas que destaco são “Qualquer um”, “Romance fugitivo”, “Refém” e “Mundo visionário”.
- Achei Relespública bem rockabilly, não é muito minha vibe, mas serve pra escutar bebendo ou trabalhando em modo turbo.
- Ainda vou ver o que acho de Penélope, que é outra banda por onde Dotto passou, mas só escutei faixas isoladas na época que ficou em evidência, embora já tivesse lido sobre a banda baiana pela Showbizz possivelmente devido à colaboração com os Raimundos. Eu nem imaginei que tivessem terminado ainda em 2004! XD
- Reescutar Autoramas (banda da qual faz parte Erika Martins, também ex-Penélope)
- Ouvir o último álbum do Virna Lisi, que parecem ter escolhido ficar na obscuridade já que não tem nada na Deezer/Spotify, mas tem page no Bandcamp.
- Outros álbuns de “Rock Brasil” de fins dos anos 80 até meados dos 90s: coisas que eram “inacessíveis” devido à divulgação, progresso tecnológico ou minha idade.
- Relembrar e pesquisar outras bandas nacionais do período de 2000-2010: coisas mainstream que esqueci, ignorei ou nem me liguei sobre a existência, coisas como Rock Rocket, que eu não sei porque mas sempre lembro do nome quando ouço Autoramas. Curti quando conheci, mas deixei de lado.
E considerando que a Katia Dotto parece ser um link maior entre as coisas aqui, mais até que o Leela, será que acho mais coisas do Kanella Pie? Bye.